quinta-feira, 23 de julho de 2015

Unidade de Saúde de Candelária oferece suporte a cuidadores de pacientes com Alzheimer




Apoio emocional, troca de conhecimentos e de experiência, momentos de valorização, carinho e amizade. Esses benefícios são descritos e vivenciados pelos integrantes do grupo “Cuidando de Quem Cuida”, desenvolvido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) de Candelária, como muito importantes para todos que prestam cuidados a pessoas com Alzheimer e outras demências. O grupo, que se reúne todas as terças-feiras pela manhã, celebrará 14 anos no mês de agosto e já comemora os bons resultados.

“Aqui a gente ri, chora e aprende. Porque, chorar por chorar é bom para aliviar e tirar de você coisas muito pesadas. Mas, e depois, faço o que com isso, com a minha dor? Preciso reconhecer que a dor existe e transformá-la em algo mais belo. Somos um espaço de saúde e beleza, porque há beleza nas histórias contadas, naquilo que compartilho e ajuda os outros a ter ideias e quando saímos daqui diferente de quando entramos. Tem pessoas que chegam com o semblante carregado e saem daqui leves, sorrindo e isso é muito importante”, explicou.


Ela explicou que falar da dor é terapêutico e sinônimo de coragem, porque é preciso sair da zona de conforto, o que é muito difícil, e que muitos dos que procuram o grupo enfrentam um momento de negação do problema por algum tempo, até que entendem aquilo e reconhecem a situação que tanto os faz mal.



“É preciso compreender isso. Quem chega aqui, chega num determinado momento que difere do tempo do outro. Cada um no seu tempo. E também há casos de pessoas que ficam para um longo período e outros que só passam por aqui, porque a dor é tão grande que eles simplesmente não querem escutar, com medo de sofrerem mais”, falou.







O momento de negação, segundo Betânia, é real, normal e acomete muitas pessoas e que o grupo é um espaço para esperança, onde cada um precisa ser dono de sua própria história. Para ela, ser cuidador é uma história de cuidar do outro, mas também de si mesmo e só depende da pessoa, porque a sobrecarga de pensamentos e emoções negativas podem fazer com que ela esqueça de si mesma e só cuide do paciente.

Cuidadores falam da experiência de grupo
Engenheiro civil, Frederico Sérgio cuida da esposa com amor, dedicação e carinho. Participante do grupo há quatro anos e meio, ele revelou que chegou ao grupo perdido e que graças ao apoio emocional que vem recebendo todos esse tempo, hoje é uma pessoa tranquila, diante de um quadro tão triste e cruel proporcionado pela doença.


“Mudou a minha vida. Estava sem rumo, sem saber direito o que era a doença, só informações científicas e aqui encontrei apoio, amizade, conhecimento sobre como se comportar diante de um quadro tão difícil e experiências. Pessoas que têm o mesmo problema em comum comigo foi muito importante. Aprendi também a dividir o sofrimento, que é muito difícil, mas não impossível de ser enfrentado. E sou satisfeito porque transmito para outras pessoas como eu, cuidadores, tudo o que aprendi e que melhorou a minha vida”, afirmou.

Para a dona de casa Andréa Caldas, o diferencial proporcionado pelo grupo é o fato deste ser um ponto de escuta também. “Hoje, quase ninguém mais quer escutar o outro e isso é muito importante para nós, enquanto cuidadores e pessoas que também necessitam de cuidados. Aqui é um ponto de equilíbrio, que nos deixam mais leves, tranquilos, apesar dos desafios do dia-a-dia. E tem ainda os momentos de distração, de terapia, de troca de experiências e de amizade, que é tão importante neste momento”, desabafou.

Grupo surgiu da dor
Betânia Maciel, que também é arte terapeuta, explicou que a ideia do grupo surgiu no final de 2001 após perder sua mãe para o Alzheimer e durante conversa com quatro colegas da UBS que também cuidavam de familiares doentes. O começo, difícil, foi tumultuado pela sua não aceitação do fato, foi sendo, aos poucos, substituído pela vontade de superar aquele momento difícil e transformar a vida de cuidadores como ela.



“Falei sobre o Alzheimer para uma plateia quatro dias depois da morte dela e para mim, aquilo foi terapêutico porque chorei, aliviei a minha carga pesada e somente três anos depois, passamos a falar sobre as nossas histórias como cuidadores. Passei a estudar arte terapia, contação de história, terapia comunitária e outras, que a partir daí, passei a ver que nós, cuidadores, precisamos cuidar primeiro de nós, para podermos cuidar do outro com qualidade”, afirmou a coordenadora do grupo.

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