Apoio emocional,
troca de conhecimentos e de experiência, momentos de valorização, carinho e
amizade. Esses benefícios são descritos e vivenciados pelos integrantes do
grupo “Cuidando de Quem Cuida”, desenvolvido pela Unidade Básica de Saúde (UBS)
de Candelária, como muito importantes para todos que prestam cuidados a pessoas
com Alzheimer e outras demências. O grupo, que se reúne todas as terças-feiras
pela manhã, celebrará 14 anos no mês de agosto e já comemora os bons
resultados.
“Aqui a gente ri, chora e aprende. Porque, chorar por chorar é bom para aliviar
e tirar de você coisas muito pesadas. Mas, e depois, faço o que com isso, com a
minha dor? Preciso reconhecer que a dor existe e transformá-la em algo mais
belo. Somos um espaço de saúde e beleza, porque há beleza nas histórias contadas,
naquilo que compartilho e ajuda os outros a ter ideias e quando saímos daqui
diferente de quando entramos. Tem pessoas que chegam com o semblante carregado
e saem daqui leves, sorrindo e isso é muito importante”, explicou.
Ela explicou que falar da dor é terapêutico e sinônimo de coragem, porque é
preciso sair da zona de conforto, o que é muito difícil, e que muitos dos que
procuram o grupo enfrentam um momento de negação do problema por algum tempo,
até que entendem aquilo e reconhecem a situação que tanto os faz mal.
“É preciso compreender isso. Quem chega aqui, chega num determinado momento que
difere do tempo do outro. Cada um no seu tempo. E também há casos de pessoas
que ficam para um longo período e outros que só passam por aqui, porque a dor é
tão grande que eles simplesmente não querem escutar, com medo de sofrerem
mais”, falou.
O momento de negação, segundo Betânia, é real, normal e acomete muitas pessoas
e que o grupo é um espaço para esperança, onde cada um precisa ser dono de sua
própria história. Para ela, ser cuidador é uma história de cuidar do outro, mas
também de si mesmo e só depende da pessoa, porque a sobrecarga de pensamentos e
emoções negativas podem fazer com que ela esqueça de si mesma e só cuide do
paciente.
Cuidadores falam da experiência de grupo
Engenheiro civil, Frederico Sérgio cuida da esposa com amor, dedicação e
carinho. Participante do grupo há quatro anos e meio, ele revelou que chegou ao
grupo perdido e que graças ao apoio emocional que vem recebendo todos esse tempo,
hoje é uma pessoa tranquila, diante de um quadro tão triste e cruel
proporcionado pela doença.
“Mudou a minha vida. Estava sem rumo, sem saber direito o que era a doença, só
informações científicas e aqui encontrei apoio, amizade, conhecimento sobre
como se comportar diante de um quadro tão difícil e experiências. Pessoas que
têm o mesmo problema em comum comigo foi muito importante. Aprendi também a
dividir o sofrimento, que é muito difícil, mas não impossível de ser
enfrentado. E sou satisfeito porque transmito para outras pessoas como eu,
cuidadores, tudo o que aprendi e que melhorou a minha vida”, afirmou.
Para a dona de casa
Andréa Caldas, o diferencial proporcionado pelo grupo é o fato deste ser um
ponto de escuta também. “Hoje, quase ninguém mais quer escutar o outro e isso é
muito importante para nós, enquanto cuidadores e pessoas que também necessitam
de cuidados. Aqui é um ponto de equilíbrio, que nos deixam mais leves,
tranquilos, apesar dos desafios do dia-a-dia. E tem ainda os momentos de distração,
de terapia, de troca de experiências e de amizade, que é tão importante neste
momento”, desabafou.
Grupo surgiu da dor
Betânia Maciel, que também é arte terapeuta, explicou que a ideia do grupo
surgiu no final de 2001 após perder sua mãe para o Alzheimer e durante conversa
com quatro colegas da UBS que também cuidavam de familiares doentes. O começo,
difícil, foi tumultuado pela sua não aceitação do fato, foi sendo, aos poucos,
substituído pela vontade de superar aquele momento difícil e transformar a vida
de cuidadores como ela.
“Falei sobre o Alzheimer para uma plateia quatro dias depois da morte dela e
para mim, aquilo foi terapêutico porque chorei, aliviei a minha carga pesada e
somente três anos depois, passamos a falar sobre as nossas histórias como
cuidadores. Passei a estudar arte terapia, contação de história, terapia
comunitária e outras, que a partir daí, passei a ver que nós, cuidadores,
precisamos cuidar primeiro de nós, para podermos cuidar do outro com
qualidade”, afirmou a coordenadora do grupo.
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